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sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A arte de criar

Para resolver tantas questões relacionadas às escolhas que devemos fazer em nossa vida profissional, acabei de ler este livro. O que me deu dicas bem interessantes e, conforme prometido, as dividirei por aqui. “A arte de criar” de Rollo May fala da coragem que devemos ter no ato da criação. Todo jornalista já passou pelo dilema de olhar aquele pedaço de papel e não saber por onde começar, como também, já foi assaltado por uma inspiração repentina, que o fez escrever por horas! Segundo o autor, toda profissão requer uma coragem criativa, mas são os artistas – dramaturgos, dançarinos, músicos, poetas, escritores -, os mais capazes de se entregar a tal ato. Estes são os eternos insatisfeitos com tudo que é apático, convencional e os que se lançam ao novo de forma mais apaixonada.
Para ele, o ato criativo surge desta capacidade do ‘encontro’. Ele ressalta que a criatividade sempre foi encarada como algum problema ou neurose. A explicação é que a arte que não é tratada de forma epidérmica, a que é genuína, requer indivíduos que consigam alargar suas fronteiras e fugir de padrões pré-estabelecidos. O encontro com a arte sempre vêm acompanhado de uma dose de ansiedade que, se bem trabalhada, resulta no prazer da criação. É a intensidade do encontro e o envolvimento que são fundamentais, mas, isso não está dissociado de um compromisso. Tudo que um artista cria tem uma referência ao seu mundo e nisso, se inserem percepções que perpassam o campo das artes, da história e que carece de uma referência no real.
Diante de um mundo onde tudo deve ser “para ontem”; se entregar a um encontro criativo parece uma dica pautada na ilusão. Realmente, somos esvaídos de toda nossa criatividade, quando temos que produzir sem parar. O que o autor aponta é que são nos momentos em que estamos mais descansados é que podemos ter esta experiência. Muitas vezes, algo surge no caminho do trabalho para casa, na estação do metrô, em sonhos; momentos em que a mente parece que descansa. Nestes instantes de quase calmaria é que surgem as melhores idéias. Contudo, vale lembrar que estas aconteceram, porque o indivíduo já esteve compromissado ao ato de criar. Então, alternar momentos de lazer e trabalho pode ser bem mais proveitoso do que se dedicar em tempo integral a uma idéia.
Segundo o psicólogo, o conformismo - resultado de uma comunicação para as massas -, é o que interfere na criação. É inevitável, nos dias de hoje, que se realize uma comunicação a nível médio para que se atinja a um maior número de pessoas. Por isso, aquele que ameaça destruir tal ordem é tido como o errado, o diferente, o insano. Mas, a criação livre ultrapassa padrões e para que permaneça assim, o criador necessita ultrapassar fronteiras. Acredito que todo jornalista saiba disso!
Tenho certeza, que muitos lutam contra a uniformidade de padrões e ainda que se encontrem inseridos num mercado, que pouco nos permita evasão, não devem abandonar a coragem de se criar. Criar no sentido de fazer algo novo, de mexer com o que precisa sair da inércia. Temos diante de nós um mundo consumista, onde tudo se reduz a números, mas, a arte de criar sempre atravessou épocas e continuará assim. Sempre existirão os questionadores, os artistas, os indagadores e aí está o verdadeiro papel do jornalista.
O livro mergulha nestas questões e propõe o encontro da criatividade de uma forma corajosa, uma vez que, muitos são os fatores que impedem a descoberta desta capacidade. A coragem liberta, a criação regozija e é disso que uma sociedade necessita para sair da ‘mesmice’ e de fato fazer diferente. Vale muito a pena uma leitura e uma meditação.


Michele Rangel
*Rollo May é professor, teólogo e psicanalista, um dos maiores estudiosos da alma humana. May, Rollo. A Coragem de criar – Rio de Janeiro: Nova Fronteira.