Resolvi escrever estas linhas em resposta ao seu pedido e, de certa forma, achei melhor que esta fosse como uma carta a um amigo. Amigo que conheci no primeiro período de uma faculdade, onde estávamos todos cheios de sonhos e ávidos para adquirir os conhecimentos necessários para sermos jornalistas. Foram anos se dedicando, estudando, procurando a melhor forma de informar e acima de tudo, de fazê-la com ética.
Acredito que a minha alegria no recebimento do tão sonhado ‘canudo’ tenha sido equiparada a de todos os meus colegas. É a conclusão de mais uma etapa de vida, o fim de um curso superior e o inicio de uma vida profissional. Ao saber que o Supremo Tribunal Federal considerou, com oito votos a um, incompatível a exigência da graduação de jornalismo, para o exercício da profissão, além da minha indignação, me lembrei do campus da minha faculdade. Imagino o que não deve estar passando na cabeça daqueles alunos, de primeiro período de jornalismo, que ingressaram ali na busca de seus sonhos.
Vivemos um clima de total subversão dos valores éticos. Realmente incomoda que existam profissionais que possam tratar da informação de forma criteriosa e ainda mais, que estes possam investigar e falar o que não poderia ser dito. A imprensa já foi calada na ditadura e agora querem desqualificar a nossa profissão. É dever sim do poder público verificar se um ensino superior, seja ele de qualquer área, habilite de forma correta os seus profissionais e cobre além desta conduta, valores éticos para o cumprimento de sua profissão, seja ela qual for.
A obrigatoriedade do diploma não fere a liberdade de expressão como alegou o Ministro Gilmar Mendes. É claro, que todos têm o direito de falar o que pensam, mas é óbvio que um profissional qualificado para tal irá fazê-lo de maneira correta. Dessa forma, qualquer um pode passar anos estudando sobre uma profissão, pela qual se identifique e em um determinado momento achar que realmente está qualificado para exercê-la.
Estamos assistindo a um retrocesso a uma profissão que lutou por anos pelo seu reconhecimento. Uns alegam que existem profissionais de outras áreas exercendo o jornalismo com o mesmo talento dos que têm o diploma. Não discordo, mas isto não é regra! Imagina se agora vários talentosos resolverem exercer outras profissões também.
Este é o país onde a exceção vira regra para que interesses maiores sejam alcançados, mesmo que para isso precise se tomar uma medida tão vergonhosa com esta. Eu não sei se consegui responder ao que me pediu amigo, mas, francamente, ainda me orgulho de ser jornalista, mesmo que existam tantos esforços para que este sentimento vá embora. Michele Rangel