É Carnaval e o samba vem surgindo, ressurgindo e renascendo entre os cariocas....
O samba é uma modalidade de música que desperta o interesse não só dos que cantam e dançam, mas também de pensadores e historiadores. Muitos estudos têm sido elaborados a respeito, já constituindo um acervo bibliográfico respeitável Associado às grandes paixões do brasileiro, assim como o futebol, o samba se tornou um dos principais gêneros musicais que expressam a identidade brasileira. Surgido a partir da mistura de cantos e ritmos dos negros vindos da África e associado com os ritmos já presentes, o samba tem seu destaque na região menos privilegiada da cidade do Rio de Janeiro e para a classe menos favorecida no período.
Surge em um período conturbado da história do Rio de Janeiro, onde ao início da República e com as modificações ocorridas na cidade novas formas de organização social são identificadas. Para uma nova classe de pessoas surgida após a abolição da escravatura, tem-se o samba que por eles foi apropriado como referencial de cultura. O samba foi visto como algo subversivo à ordem vigente. Posto em cheque diversas vezes, sendo os sambistas, em muitos casos, perseguidos.
Portanto, a partir da criação do samba “Pelo Telefone”, que sem mencionar as contradições de autoria, seria uma criação de Donga, configura-se o marco inicial da cultura do samba no Rio de Janeiro. Estabelecendo definitivamente esse gênero musical dentro da ótica de identidade nacional criada pelos cariocas e transmitida ao mundo. A presença de festividades com tradições africanas é sentida na colônia desde os primeiros anos de sua colonização.
A exemplo disso temos as congadas, onde presenciavam em rituais simbólicos a ideia da coroação dos reis do Congo, povo que os primeiros exploradores mantiveram contato em suas expedições pelo Oceano Atlântico. Seguindo a mesma lógica de procissão das festas católicas, as congadas representaram o cerne do que viria ser o samba posteriormente, se tornando primeiramente os maracatus, os ranchos de reis, que viriam a ser os carnavalescos e finalmente as escolas de samba.
A modinha, menos empolgante do que lundu sofria interferências diretas das letras italianas e das lúgubres músicas portuguesas, enquanto o lundu animava os espectadores com seu ritmo vibrante e com apresentações coreografadas. Elementos esses essenciais para a popularização do lundu para além dos espaços de convivência negra.
O lundu passa a ser considerado urbano, justamente, quando ultrapassa os limites raciais, sendo aceito pelos brancos e se tornando uma música “miscigenada”. Esse feito deve-se também, em grande parte, a criação por Domingos Caldas Barbosa, um mulato, diga-se, do lundu-canção, em meados de 1790.
Quando se torna acessível aos europeus, o lundu promove o contato das culturas negra e branca. Esse feito se torna mais importante porque não se rendeu a qualquer supremacia européia e manteve suas características rítmicas originais. Um exemplo dessa aceitação das manifestações artísticas de origem negra é quando o violão passa a ser dedilhado tal qual os instrumentos de corda de origem africana.
A influência musical dos negros vindos da África está presente em nossa cultura desde o tempo da colônia. Permanece até hoje em nosso convívio no som produzido pelos tambores que são tocados nos terreiros de umbanda e candomblé.
Estruturadas dentro de duas matrizes básicas vindas das civilizações conguesas e iorubana, o samba, sendo expressão básica da cultura brasileira é moldado dentro das tradições musicais dessas civilizações, assim como outros ritmos aqui presentes, principalmente dentro da lógica dos ritmos apresentados nas religiões afro.
Fonte: LOPRES, NEI. O Negro no Rio de Janeiro e sua tradição musical: Partido-alto, Calango, Chula e outras cantorias)