Andar pelas ruas de Olinda, subir e descer aquelas ladeiras é vivenciar experiências quase que mágicas. Primeiro a visual - uma arquitetura quatrocentista com seus casarios antigos envolta por uma natureza exuberante.Depois a atmosférica – respirar arte e ter contato com diversas manifestações culturais, seja nas artes plásticas, na música e na culinária. Chegar ao topo da ladeira da Sé e encontrar aquelas barracas com tapiocas de todo tipo e olhar a cidade lá do lato, chega a ser como uma miragem. Entre um atelier e outro, a oportunidade de conhecer obras de artistas plásticos de renome internacional como João Câmara, Tereza Costa Rego, Guita Charifker e outros artesãos anônimos, espalhados nos 71 ateliers na cidade alta. É como um levitar cultural e não é a toa que a cidade inspira poetas, é pauta de músicas e foi eleita Patrimônio Cultural da Humanidade.
Agora, talvez o ponto forte desta cidade seja o seu carnaval. Um carnaval multicultural onde todos podem chegar. São sons que vêm de todo Brasil e do mundo. Mesclam-se o Maracatu, o frevo, o coco, o rock and roll e o samba. Olinda é a mistura democrática que exacerba seus ritmos sem deixar também que os outros cheguem e se façam notados. Mas para além do frevo tradicional, que faz parte da raiz do carnaval olindense e dos tradicionais bonecos gigantes que desfilam em meio ao povo, a cidade também cai no samba.
Podemos dizer que o samba de fato não têm fronteiras. Este ano o frevo completou 100 anos e desta forma o carnaval de Recife e Olinda foi exaltado na Avenida com muito samba no pé pela Estação Primeira de Mangueira. A escola veio tecendo a trajetória do frevo, lembrando grandes nomes e grandes blocos pernambucanos.
Muitos são os nomes responsáveis por fazerem vibrar gerações de multidões “frevolentas” no Recife. Capiba, que é um dos maiores nomes da música pernambucana que compôs para o “Bloco da Madeira do Rosarinho” a música “Madeira que cupim não rói”, além de vários outros clássicos. Raul Moraes compôs grande parte do repertório do “Bloco da Saúde da Mulher” que vinha a ser concorrente do “Bloco das Flores”, além de ter participado de diversos blocos como “Pirilampos”, “Batutas do São José”, “Galo Misterioso”, entre outros. Edgar Moraes, irmão de Raul Moraes, que foi o autor do frevo que inspirou a criação do Bloco da Saudade “Valores do passado”, uma marcha que faz homenagem aos 24 blocos extintos do carnaval do Recife; e Cláudio Almeida que produziu, junto com Humberto Vieira, o primeiro CD do Bloco da Saudade “Saudade vai passar”. Enfim, são muitos nomes que não poderiam ser esquecidos e que ganharam notoriedade merecida entre os cariocas pelo enredo da Mangueira de 2008.
Essa mistura de samba e frevo também têm seus adeptos por lá. Entre uma ladeira e outra o samba de um grupo tradicional de Olinda, o Patusco, arrasta milhões de foliões. Além do frevo, maracatu e coco também se ouve o samba enredo das tradicionais escolas de sambas cariocas mesclando a irreverência pernambucana á poética do samba carioca. O final disto tudo é muita alegria que arrasta multidões de foliões, cariocas, pernambucanos, mineiros, paulistas e muito mais.
Portanto um aviso aos cariocas e aos amantes do samba de todo país, além de tantos ritmos você encontrará muito samba e de qualidade pelas ruas de Olinda e para isso você não precisa de Abada, não necessita ingresso, nem tampouco permissão, é só chegar e se misturar ao povo, entrar no ritmo e cair na gandaia, ou melhor no samba.
Precisa sim é de fôlego, para subir e descer as ladeiras embaladas pelos ritmos que se misturam e a multidão de foliões que só para de pular na quarta feira de cinzas, chorando a espera do próximo carnaval.
Michele