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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Olinda: Magia, cultura e carnaval!


Andar pelas ruas de Olinda, subir e descer aquelas ladeiras é vivenciar experiências quase que mágicas. Primeiro a visual - uma arquitetura quatrocentista com seus casarios antigos envolta por uma natureza exuberante.Depois a atmosférica – respirar arte e ter contato com diversas manifestações culturais, seja nas artes plásticas, na música e na culinária. Chegar ao topo da ladeira da Sé e encontrar aquelas barracas com tapiocas de todo tipo e olhar a cidade lá do lato, chega a ser como uma miragem. Entre um atelier e outro, a oportunidade de conhecer obras de artistas plásticos de renome internacional como João Câmara, Tereza Costa Rego, Guita Charifker e outros artesãos anônimos, espalhados nos 71 ateliers na cidade alta. É como um levitar cultural e não é a toa que a cidade inspira poetas, é pauta de músicas e foi eleita Patrimônio Cultural da Humanidade.
Agora, talvez o ponto forte desta cidade seja o seu carnaval. Um carnaval multicultural onde todos podem chegar. São sons que vêm de todo Brasil e do mundo. Mesclam-se o Maracatu, o frevo, o coco, o rock and roll e o samba. Olinda é a mistura democrática que exacerba seus ritmos sem deixar também que os outros cheguem e se façam notados. Mas para além do frevo tradicional, que faz parte da raiz do carnaval olindense e dos tradicionais bonecos gigantes que desfilam em meio ao povo, a cidade também cai no samba.
Podemos dizer que o samba de fato não têm fronteiras. Este ano o frevo completou 100 anos e desta forma o carnaval de Recife e Olinda foi exaltado na Avenida com muito samba no pé pela Estação Primeira de Mangueira. A escola veio tecendo a trajetória do frevo, lembrando grandes nomes e grandes blocos pernambucanos.
Muitos são os nomes responsáveis por fazerem vibrar gerações de multidões “frevolentas” no Recife. Capiba, que é um dos maiores nomes da música pernambucana que compôs para o “Bloco da Madeira do Rosarinho” a música “Madeira que cupim não rói”, além de vários outros clássicos. Raul Moraes compôs grande parte do repertório do “Bloco da Saúde da Mulher” que vinha a ser concorrente do “Bloco das Flores”, além de ter participado de diversos blocos como “Pirilampos”, “Batutas do São José”, “Galo Misterioso”, entre outros. Edgar Moraes, irmão de Raul Moraes, que foi o autor do frevo que inspirou a criação do Bloco da Saudade “Valores do passado”, uma marcha que faz homenagem aos 24 blocos extintos do carnaval do Recife; e Cláudio Almeida que produziu, junto com Humberto Vieira, o primeiro CD do Bloco da Saudade “Saudade vai passar”. Enfim, são muitos nomes que não poderiam ser esquecidos e que ganharam notoriedade merecida entre os cariocas pelo enredo da Mangueira de 2008.
Essa mistura de samba e frevo também têm seus adeptos por lá. Entre uma ladeira e outra o samba de um grupo tradicional de Olinda, o Patusco, arrasta milhões de foliões. Além do frevo, maracatu e coco também se ouve o samba enredo das tradicionais escolas de sambas cariocas mesclando a irreverência pernambucana á poética do samba carioca. O final disto tudo é muita alegria que arrasta multidões de foliões, cariocas, pernambucanos, mineiros, paulistas e muito mais.
O samba carioca feito por pernambucanos que desce e sobe as ladeiras de Olinda. A ponte entre o Rio de Janeiro e Pernambuco está sendo feita aqui e lá, revelando a grandeza da cultura popular. A união está para lá de aprovada, levantou a Marquês de Sapucaí, a avenida dos cariocas e arrastou centenas de foliões em Olinda.
Portanto um aviso aos cariocas e aos amantes do samba de todo país, além de tantos ritmos você encontrará muito samba e de qualidade pelas ruas de Olinda e para isso você não precisa de Abada, não necessita ingresso, nem tampouco permissão, é só chegar e se misturar ao povo, entrar no ritmo e cair na gandaia, ou melhor no samba.
Precisa sim é de fôlego, para subir e descer as ladeiras embaladas pelos ritmos que se misturam e a multidão de foliões que só para de pular na quarta feira de cinzas, chorando a espera do próximo carnaval.
Michele




O Patusco descendo as ladeiras......

Tradição no carnaval de Olinda

O Patusco
O grupo carnavalesco foi criando em 1962, pelo clã Vasconcelos Guimarães, e logo passou a ganhar destaque por fazer um carnaval participativo e original entre os fuliões olindenses. Deco um dos diretores do grupo fala um pouco mais deste “samba enredo”.

ENTREVISTA DECO

1- Como surgiu o Patusco? ­­­­­­­­­­­­­­­­
O grupo carnavalesco foi criando em 1962, pelo clã Vasconcelos Guimarães, e logo passou a ganhar destaque por fazer um carnaval participativo e original entre os fuliões olindenses, porém, somente veio a ser conhecido como PATUSCO em 1972, onde, para participar de um Concurso de Fantasia realizado pela EMPETUR em Olinda o grupo teria que dar um nome no ato da inscrição, como a fantasia nessa época era de pato, os fundadores buscaram uma palavra que lembrasse pato, mas que ao mesmo tempo desse as reais características para a filosofia do grupo, e por pura coincidência, acharam no dicionário a palavra PATUSCO, que significa: Aquele que gosta de patuscada, ou seja, um ajuntamento de pessoas que se reúnem para beber, brincar e se divertir. Pronto, estava dado o nome, não poderia existir palavra melhor para este grupo.

2- Me fale um pouco da história e da trajetória do grupo?
O grupo passou por diversas fases, começou com um grupo de pessoas vestidas com fantasias exóticas, logo depois veio à fase das sátiras políticas. A partir de 1973, com o dinheiro ganho no concurso de fantasia da EMPETUR de 1972, o grupo comprou instrumentos musicais e passou a ter uma bateria própria. Hoje o bloco é reconhecido pelo som de sua bateria tradicional. Em 2000, foi criada a BANDA PATUSCO, que toca o ano inteiro fazendo shows pela região nordeste.

3- Como é feita a escolha de repertório e de componentes?
A escolha do repertório é feita por alguns integrantes, escolhendo dentre os repertórios de samba enredo, Beth Carvalho, Alcione, Simone, entre outros artistas famosos. Além disso, a banda recebe composições feitas por pessoas da própria região para o próprio PATUSCO. A escolha dos componentes da bateria é feita da seguinte forma: As pessoas interessadas a tocar no bloco carnavalesco fazem as inscrições (gratuitas), participam de alguns ensaios e depois é feita uma avaliação e os cortes necessários.

4- O carnaval de Olinda é conhecido por sua irreverência, por se mesclarem diversos ritmos, como você vê isso?
Esse é o diferencial do carnaval de Olinda, é um carnaval multicultural, aqui se sobe uma ladeira com o maracatu, desce com um frevo, sobe novamente ao som do caboclinho e mais uma vez desce sambando. Enfim, dança e escuta diversos ritmos em uma única festa popular e democrática.

5- Quando e onde o patusco poderá ser visto neste carnaval?
A partir de sexta-feira, dia 16/02, com seu tradicional “arrastão” abrindo o carnaval olindense, no domingo, na segunda e na terça de carnaval com seu desfile oficial, que terá concentração na Rua do Amparo, em frente a casa do PATUSCO às 8:59 hs da manhã.



6- Quais os projetos futuros?

Lançamento de um CD com musicas próprias, começar a fazer shows fora da Região Nordeste e dar continuidade ao PROJETO PATUSQUINHO (projeto social com crianças carentes da comunidade da Ilha do Maruim, onde estas mesmas crianças tem que estar matriculadas e estudando para participar).

domingo, 10 de fevereiro de 2008


O CENTRO CULTURAL CARTOLA



A comunidade da Mangueira tem como traço característico a união e o senso de pertencimento provocado pela arte, pelo samba e pela Escola de Samba ali instalada. A constatação de que a nova geração não tinha conhecimento da história de sua comunidade e o baixo índice de jovens empenhados em operar mudança no caminho a eles historicamente reservado, motivou a criação de uma instituição voltada para despertar nesses indivíduos o sentido de pertencimento, identidade e o resgate da memória afetiva.A rede de relações estabelecida pela grande líder DONA ZICA e seus netos Nilcemar e Pedro Paulo Nogueira, composta de professores, artistas, estudantes e pesquisadores possibilitou em 2001, a fundação do Centro Cultural Cartola. Inicialmente funcionando em espaço cedido pela FAETEC, em convênio com o Governo do Estado do Rio de Janeiro. Desde 2003 o Centro Cultural Cartola ocupa uma área de sete mil metros quadrados, em prédio desativado do IBGE, cedido pelo Ministério da Cultura, localizado Rua Visconde de Niterói, na Mangueira.A iniciativa propõe o resgate de hábitos e costumes da cultura afro-brasileira, a valorização da troca de experiência entre gerações num contato direto entre griô e aprendizes, por meio do Projeto GERações, estimulando-os a participarem ativamente da “Roda dos Saberes”, em oposição às pressões externas de globalização e a falta de auto-estima e de pesquisa.A base deste empreendimento é a vasta obra de Angenor de Oliveira, o Cartola, cuja importância para a música popular brasileira é reconhecida. A escolha de Cartola como patrono da instituição se justifica pela sua importância no mundo musical, complementada por sua luta, superação de dificuldades, exemplo de inserção ativa do indivíduo na sociedade por meio da produção cultural. Assim, além da criação de espaços destinados à exposição e à divulgação da produção cultural de Cartola, o Centro Cultural, atualmente reconhecido como Ponto de Cultura, pelo Ministério da Cultura, se dedica à educação musical e artística de crianças, jovens, adultos e idosos em projetos sociais de grande abrangência. Tem como objetivo a promoção e desenvolvimento da cidadania por meio das artes, motivando os crianças, jovens e adultos do Morro da Mangueira e adjacências, no município do Rio de Janeiro, a identificar valores culturais da comunidade a que pertencem, oferecendo gratuitamente oficinas de teatro, dança, música, poesia e eventos sócio-educativos como: a realização de rodas de leitura, coleta de Depoimentos, mostras de vídeo com debates, shows e palestras. Possui uma Biblioteca Comunitária com o apoio da faculdade de biblioteconomia da UNIRIO.Os benefícios que a iniciativa proporciona para a comunidade é antes de tudo a valorização de uma identidade, a formação de cidadãos melhor preparados e fortalecidos, com melhores condições de competitividade no mercado e integração social. O trabalho de preservação e difusão das nossas tradições leva a proteção das mesmas, evitando a descaracterização.
E o resultado do trabalho desenvolvido pode ser apreciado por outros segmentos da sociedade, podendo ainda gerar recursos e divisas, considerando que a nossa “matéria prima” é o samba e por meio dele trabalhamos a nossa identidade e sua importância como patrimônio cultural brasileiro.
ps: Amigos recebi este texto do meu amigo Thiara e estou repassando por aqui, uma vez que acredito que todos devam conhecer este lugar e este nobre trabalho. Em breve, escreverei mais sobre o Centro, o Cartola, o samba e um pouco do que isso representa na vida cultural do Rio de Janeiro e na minha vida.


Michele Rangel

Nei Lopes Especial


SAMBA DE FUNDAMENTO

Nei Lopes - Magno de Souza


Vestiu o meu terno de linhoe ficou feito um morto

Calçou meu pisantebranquinho e sentiu desconforto

Botou na cabeça o chapéu assim feito uma flor

Pegou meu pandeiro e bateu com mais ódio que amor.


E aí foi catando cavaco em fundos de quintais

Arfando, como quem viola templos virginais

E como era sambista só porque Seu Rei mandou

Vibrou minha sétima corda e nela se enforcou.


O samba

Vem lá de muito longe

De antes da Praça Onze

De emoções ancestrais.


Candeia Por sinal já dizia

Que ele é filosofia

Não é moda fugaz.


O samba

É uma coisa de dentro

Tem os seus fundamentos

Os seus rituais

E a gente

Só penetra essa seita

E em seu colo se deita

Quando sabe o que faz...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

“Quero ser feliz. Para isso preciso de modelos.”

Este é o início de um brilhante texto do Arnaldo Jabor publicado no seu livro de crônicas “Amor é prosa e sexo é poesia”. O que antes era um artigo do jornalista, depois virou música da Rita Lee para, finalmente nascer o livro, que, aliás, merece ser lido e relido. Jabor aponta de forma incrível a mediocridade das relações, que hoje são regidas mais pelo que vêm de fora que pelo interior.
Tenho assistido alguns capítulos desse atual BBB, que não entendo como já chega á marca de oitavo. Na verdade, a identificação e o fascínio pela cultura da superficialidade são vistos e acompanhados durante muito tempo em nossa sociedade. Porém, poder detectar quais são os meios utilizados para este fascínio, como é o caso dos programas reality show, tal qual o Big Brother, começa a se tornar interessante.
O espetáculo é facilmente encontrado em vários programas da televisão brasileira, contudo, essa mesma presença espetacular na sociedade acaba, em meio a correria do dia a dia, acostumando os olhares passivos de milhares de telespectadores a não percebê-los. E assim nascem os heróis, os semideuses que têm seu caminho favorecido pelo “empurrãozinho” da fama pela fama.
Hoje nossos heróis não são como os de antigamente, nem precisam de grandes esforços, não mais salvam mocinhas em perigo - se é que ainda existe alguma - não escalam montanhas nem nada, aliás, melhor mesmo é não saber de nada...
É Como relata Jabor: “ (...)Hoje, não. Nossos heróis masculinos não trabalham. A mídia nos ensina que os heróis da felicidade não têm ideal algum a conquistar, a não ser eles mesmos. A felicidade virou uma autoconstrução de sucesso, de bom desempenho. O solitário feliz suga o prazer em cada flor, sem conflitos, sem dor, sem afetos profundos, mas sempre com um sorriso simpático e congelado. O herói feliz passa a idéia de que não precisa de ninguém, de que todos são o objeto de seu desejo, de que todos podem ser prisioneiros de seu charme; mas ele, de ninguém....(...)A mulher da mídia deseja ser um objeto de consumo como um eletrodoméstico, quer ser um avião, uma “máquina” peituda, bunduda, sexy ( mesmo se fingindo), também o homem da mídia deseja ser “ coisa”, só que mais ativa, como uma metralhadora, uma Ferrari, um torpedo inteligente e, mais que tudo, um grande pênis voador, um “ passaralho” superpotente, mas irresponsável e frívolo, que pousa e voa de novo, sem flacidez e sem angústias. O macho brasileiro tem pavor de ser possuído por uma mulher. Não há entrega; basta-lhe o encaixe. O herói macho se encaixa em heroína fêmea B e produzem uma engrenagem C, repleta de luxo e arrepios, entre lanchas e caipirinhas, entre Jet-skis e BMWs, num esfuziante casamento que dura três capas de caras....
Infelizmente “alienação + superficialidade” são os principais ingredientes desta receita, que, somada a uma bela edição resultam no produto perfeito para a nossa sociedade. Essa que nos dá todas as respostas para que sejamos seres humanos que pregam a sua vida em um mundo de consumo, mercadoria, do capital, da aparência e do fascínio. Que espetáculo!
Diariamente assistimos a tantas outras cenas que eu gostaria que não se prolongassem os capítulos. Cenas de uma vida real onde o jogo Mas é assim, enquanto as pessoas se preocupam com as desejáveis “bundas alheias” todo o resto segue sem resposta. Enquanto vamos dando apenas nossas “espiadinhas” têm muita gente de olhos bem abertos.
Michele