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sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A arte de criar

Para resolver tantas questões relacionadas às escolhas que devemos fazer em nossa vida profissional, acabei de ler este livro. O que me deu dicas bem interessantes e, conforme prometido, as dividirei por aqui. “A arte de criar” de Rollo May fala da coragem que devemos ter no ato da criação. Todo jornalista já passou pelo dilema de olhar aquele pedaço de papel e não saber por onde começar, como também, já foi assaltado por uma inspiração repentina, que o fez escrever por horas! Segundo o autor, toda profissão requer uma coragem criativa, mas são os artistas – dramaturgos, dançarinos, músicos, poetas, escritores -, os mais capazes de se entregar a tal ato. Estes são os eternos insatisfeitos com tudo que é apático, convencional e os que se lançam ao novo de forma mais apaixonada.
Para ele, o ato criativo surge desta capacidade do ‘encontro’. Ele ressalta que a criatividade sempre foi encarada como algum problema ou neurose. A explicação é que a arte que não é tratada de forma epidérmica, a que é genuína, requer indivíduos que consigam alargar suas fronteiras e fugir de padrões pré-estabelecidos. O encontro com a arte sempre vêm acompanhado de uma dose de ansiedade que, se bem trabalhada, resulta no prazer da criação. É a intensidade do encontro e o envolvimento que são fundamentais, mas, isso não está dissociado de um compromisso. Tudo que um artista cria tem uma referência ao seu mundo e nisso, se inserem percepções que perpassam o campo das artes, da história e que carece de uma referência no real.
Diante de um mundo onde tudo deve ser “para ontem”; se entregar a um encontro criativo parece uma dica pautada na ilusão. Realmente, somos esvaídos de toda nossa criatividade, quando temos que produzir sem parar. O que o autor aponta é que são nos momentos em que estamos mais descansados é que podemos ter esta experiência. Muitas vezes, algo surge no caminho do trabalho para casa, na estação do metrô, em sonhos; momentos em que a mente parece que descansa. Nestes instantes de quase calmaria é que surgem as melhores idéias. Contudo, vale lembrar que estas aconteceram, porque o indivíduo já esteve compromissado ao ato de criar. Então, alternar momentos de lazer e trabalho pode ser bem mais proveitoso do que se dedicar em tempo integral a uma idéia.
Segundo o psicólogo, o conformismo - resultado de uma comunicação para as massas -, é o que interfere na criação. É inevitável, nos dias de hoje, que se realize uma comunicação a nível médio para que se atinja a um maior número de pessoas. Por isso, aquele que ameaça destruir tal ordem é tido como o errado, o diferente, o insano. Mas, a criação livre ultrapassa padrões e para que permaneça assim, o criador necessita ultrapassar fronteiras. Acredito que todo jornalista saiba disso!
Tenho certeza, que muitos lutam contra a uniformidade de padrões e ainda que se encontrem inseridos num mercado, que pouco nos permita evasão, não devem abandonar a coragem de se criar. Criar no sentido de fazer algo novo, de mexer com o que precisa sair da inércia. Temos diante de nós um mundo consumista, onde tudo se reduz a números, mas, a arte de criar sempre atravessou épocas e continuará assim. Sempre existirão os questionadores, os artistas, os indagadores e aí está o verdadeiro papel do jornalista.
O livro mergulha nestas questões e propõe o encontro da criatividade de uma forma corajosa, uma vez que, muitos são os fatores que impedem a descoberta desta capacidade. A coragem liberta, a criação regozija e é disso que uma sociedade necessita para sair da ‘mesmice’ e de fato fazer diferente. Vale muito a pena uma leitura e uma meditação.


Michele Rangel
*Rollo May é professor, teólogo e psicanalista, um dos maiores estudiosos da alma humana. May, Rollo. A Coragem de criar – Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Partideiros do Cacique no Trapiche Gamboa


Para você que gosta de um bom Samba de Raiz, o grupo Partideiros do Cacique estará nesse sábado no Trapiche Gamboa Centro do Rio de Janeiro na Rua Sacadura Cabral, 155 Praça Mauá, Gamboa, a partir das 22:30hs, couvert R$20,00.

O Grupo Partideiros do Cacique faz uma tradicional e animada roda de samba com repertório variado que com certeza vai fazer a alegria de muita gente...

Apenas por curiosidade, eu Kátia Barros, uma das autoras do blog vou estar comemorando meu aniversário de 37 aninhos por lá...

grande abraço a todos os meus amigos blogueiros, até sábado

Kátia

quarta-feira, 30 de julho de 2008




Dormitório das Garças de Cabo Frio
O vôo seguro rumo à preservação ambiental

A tarde cai em Cabo Frio e podemos vislumbrar uma cena fantástica, inúmeras garças vão para a sua casa dormir, seguras e protegidas por lei! Parece um encontro marcado, a partir das 17 horas, o céu se enche de lindas garças brancas, todas numa mesma direção e rumo a um endereço certo! São cerca de 1.400 delas e mais 39 espécies de aves que fazem um verdadeiro balé no ar e descansam ao final do espetáculo, que é imperdível! O Parque Municipal Ecológico Dormitório das Garças “Walter Bessa Teixeira” foi inaugurado no dia 5 de junho de 2007, data melhor não poderia ser, pois se trata do Dia Mundial do Meio Ambiente!
Quem chega é levado ao interior do manguezal, por um extenso deck de madeira, situado a cima da maior laguna hiper-salina do planeta. Um caminho que é marcado por inúmeras placas; lembretes de que devemos preservar o meio ambiente! Durante o passeio, podemos vislumbrar um observatório, local onde se pode ver a chegada e a partida das aves. Dali a vista é deslumbrante; a imensidão do manguezal e as aves que cruzam o ar em busca de seu descanso. O Parque possui também um pórtico, uma sala de administração, dois banheiros com acessibilidade para deficientes físicos e estacionamento.
Novos tempos em que todos devem ter em mente a importância de valorizarmos o nosso ecossistema. Devido a isso, desde 2005, a Prefeitura de Cabo Frio investe no plantio de 34 mil mudas, além da planta mangue-negro, que ajuda na retenção da poluição de superfície do canal, com o movimento das marés. O resultado do replantio já é notado em diversos pontos do manguezal. Alem disso, as idéias de preservação podem ser esclarecidas e difundidas, uma vez que, a unidade conta com um auditório com capacidade para 40 pessoas. Inúmeras palestras de preservacionistas são ministradas e, inclusive, a alunos da rede municipal de ensino. Mostrando que a educação é o ponto forte, para que possamos criar um futuro mais compromissado com o meio ambiente!
Um livro em comemoração a um ano do parque foi lançado pelos biólogos José Henrique, Diego dos Santos Moura e Maria Aparecida Marinho. “DO SONHO À REALIDADE”, relata a trajetória do manguezal, desde a sua destruição até a sua recuperação, além de retratar toda a fauna e flora do local. O livro será distribuído para todas as bibliotecas da rede municipal de ensino. Uma iniciativa da Prefeitura e de pessoas que se sentem parte do meio ambiente e que podem transmitir a tantas outras a importância de se sentir inserida a natureza, de fato!

A consciência deve partir de todos, é uma questão cultural! Mais projetos de preservação devem ser construídos e divulgados, para que possamos garantir um mundo de harmonia e vida para as próximas gerações.
Desde a inauguração, o Dormitório das Garças já recebeu 3.480 visitantes, entre alunos, cidadãos e turistas, o que revela que o ser humano está mais preocupado com a manutenção da vida no planeta. Portanto, vale a pena uma visita a este parque que, nos proporciona um contato direto com a natureza, além de nos alertar para a necessidade de uma visão mais cuidadosa com o futuro do nosso planeta! A entrada é gratuita! É só chegar e se encantar com o belo e com esta bela iniciativa; um convite imperdível, um encontro com a simplicidade e um momento de reflexão.

Mais informações sobre o Parque Municipal Ecológico Dormitório das Garças podem ser obtidas através do telefone da Secretaria Municipal de Meio-Ambiente: 2645-3131
Michele Rangel

terça-feira, 29 de abril de 2008

De Titanic à responsabilidade ambiental....


A ÚLTIMA HORA

Durante anos escutamos as profecias de cá e de lá de que o mundo um dia acabaria. Essa realidade parecia tão distante, contudo, ao assistir ao documentário narrado e produzido por Leonardo de Caprio, pude perceber que o fim está bem mais próximo do que se imagina. Mais de 50 renomados entrevistados revelam a crise que existe hoje em nosso ecossitema mostrando as catastróficas conseqüências à humanidade. Cenas reais que chocam e nos convidam a uma maior reflexão a respeito do que somos e do que viemos fazer neste mundo.

É sabido, que vivemos um distúrbio global; as maiores temperaturas têm sido registradas, as camadas de gelo derretendo, efeito estufa, desmatamento, poluição, chuva ácida, tudo acontecendo ao mesmo tempo e em toda parte do mundo. A mídia nos mostra diariamente os devastadores efeitos causados em lugares longínquos do planeta: enchentes, furacões, desmatamentos, terremotos. Até no Brasil já experimentamos tremores de terras!
Pesquisadores revelariam que 30% do solo estaria degradado, 70 países no mundo já não possuem mais florestas, grande parte dos peixes que são pescados ou estão contaminados por resíduos químicos, ou são desperdiçados sem que alimente quem tem fome. Rios estão secando; o clima está sofrendo grandes alterações e o homem continua dando as costas á tudo isso!

Desde a revolução industrial que o homem só pensa em progresso, tecnologia, economia, crescer e crescer. Além da redução do uso de combustíveis fósseis e da busca por um futuro sustentável, nos mais diversos âmbitos, há de se reciclar os indivíduos. Não se trata de abandonar a idéia de tecnologia, mas sim, buscar uma forma de torná-la sustentável. O cerne da questão está na mentalidade humana.

A idéia do consumismo entranha nos poros da humanidade. As mercadorias viraram símbolos culturais. Crianças americanas são mais capazes de reconhecerem logotipos de empresas que espécies da natureza. O país que é o maior símbolo do consumismo possui tecnologia suficiente para dominar o mundo, mas no futuro poderá ser dominado pelo mesmo. A ganância e a exploração do Petróleo não só produz guerra na sua forma mais cruel, como mata diariamente milhares de crianças com câncer e aumenta o número de organismos infectados por doenças respiratórias em todo planeta.

De certo que, se os EUA conseguem movimentar exércitos pelo mundo com a intenção de produzir mais e mais riqueza, ele conseguiria reverter esta política de exploração ambiental, se assim o quisesse. Contudo, este é um problema que se insere na política e na economia mundial. Economia é a palavra que conduz o mundo, é um processo que pouco permite evasão e em pouco tempo o homem conquistará apenas uma grande fábrica de lixo!

O desenvolvimento sustentável seria a única saída possível e urgente. Mas o que se fala sobre isso? As pessoas querem saber disso? Existem alguns poucos conscientes que podem dar uma guinada no processo de transformação cultural e ambiental. Temos que divulgar mais projetos onde a sustentabilidade se faça presente seja na arquitetura, seja como forma de energia eólica, energia solar, ‘biodiesel’e até mesmo dando voz aos projetos sociais e ambientais. Plante uma árvore! Economize água! Seja lá como for! Por que existem poucos que têm a consciência do reciclar. É uma questão cultural.

É necessária uma mudança no nível de consciência de todos. Cada indivíduo pode fazer a sua parte, é só uma questão de se sensibilizar com as belezas do mundo. De se sentir merecedor do lugar onde se vive, de amar e respeitar a natureza, o planeta em que vivemos, as gerações futuras. Recebemos tanto de graça e não sabemos fazer o mesmo nem pelo próximo.

A idéia de que somos parte da natureza não existe mais, uma vez que o homem já a tornou mercadoria. A contramão desta história estaria no homem simplesmente viver no mundo em harmonia com a natureza e não possuí-la como a um brinquedo inesgotável. Até quando o ser humano irá competir com a natureza? Até que ponto nós somos responsáveis pela biosfera? Estas perguntas levantadas pelo produtor do documentário esperam repostas, minha, sua e de toda a humanidade.


Michele Rangel

domingo, 20 de abril de 2008

Jackson do Pandeiro e os Emos


Blogueiros amigos,
Achei essa charge no blog do pessoal do Casseta e Planeta, e o que me chamou atenção foi justamente a presença do Jackson do Pandeiro com um rapaz "emo". Existem ainda muitos questionamentos a respeito do termo Emo, que é uma corruptela do emocional hardcore, como é denominado esse gênero musical surgido no começo da década de 1980 em Washington, EUA.
O ritmo "emo" é derivado do hardcore, do punk e do indie rock. Suas características mais marcantes são o estilo mais lento, com letras com conteúdo emocional, mais sensível aonde nota-se uma tendência em abandonar o punk distorcido em favor dos violões mais lentos.
"No Brasil, o gênero se estabeleceu sob forte influência norte-americana em meados de 2003, na cidade de São Paulo, espalhando-se para outras capitais do Sul e do Sudeste, e influenciou também uma moda de adolescentes caracterizada não somente pela música, mas também pelo comportamento geralmente emotivo e tolerante, e também pelo visual, que consiste em geral em trajes pretos,Trajes Listrados, Mad Rats, Cabelos Coloridos e franjas caídas sobre os olhos."
Fontes de Pesquisa: Wikipédia

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Para os amantes da pipoca, filme e sofá, uma boa dica para o feriado!!


Primo Basílio
Produzido, co-escrito e dirigido por Daniel Filho, em uma adaptação ao romance de Eça de Queiroz, retrata a história de uma mulher casada que não resiste aos encantos do sedutor primo, o Basílio. Luiza é interpretada pela graciosa Débora Falabella e Basílio pelo atraente galã Fabio Assunção. Escolha perfeita, uma vez que ela refletiu bem o papel da jovem recém casada e cheia de sonhos e ele a do lindo, viajado e sedutor primo.
Trocada Lisboa pela grande São Paulo, o filme trata de uma história extra-conjugal , onde de um lado está uma jovem sonhadora, que nutre uma paixão adolescente pelo primo e de outro, o mesmo, um jovem sedutor que a faz perder a cabeça. Enquanto o marido engenheiro se ocupava da construção de Brasília, a jovem Luiza, não resiste às investidas do primo. Aquele típico amante que sabe dizer a palavra certa na hora certa, com o único intuito de todos, levá-la para cama! E como toda história acaba tendo um “diabinho”, Luiza é incentivada pela amiga adúltera e bem “soltinha” Leonor, a se divertir com o bonitão. Bom, como era de se esperar, a moça não resiste e se entrega aos braços de sua grande paixão, que lhe faz grandes juras de amor em tardes calorosas no “Paraíso”, apartamento escolhido para os encontros.
Luíza, cega e totalmente envolvida passa a escrever cartas de amor ao primo. Aí, começam a existir as possíveis “provas e evidências”, a empregada Juliana as descobre e resolve fazer delas a sua aposentadoria. A jovem num ímpeto de loucura procura o primo e lhe propõe uma fuga à Paris. Muito romântico não fosse o caso dele apenas ter se divertido com a coitada e não dar a mínima a seu pedido. Pior, ainda retorna sozinho a “Cidade Luz”, após uma despedida fria, digna de um cafajeste. Luíza se desespera e tenta recompor sua vida, uma vez que o marido “corno” estaria prestes a retornar ao lar. Ainda assim, continua a escrever cartas ao primo que deixara um cartão com o endereço, contudo, suas linhas nunca tiveram respostas.
Se existe mordomo assassino, esta empregada não ficaria muito atrás, ela inverte os papéis e faz a jovem realizar os serviços domésticos, enquanto ela, passa as tardes assistindo TV. Luiza então assume as tarefas da casa de dia e a noite se faz esposa e amante. Quando sucumbi às chantagens de Juliana, a moça resolve recorrer a “amiguinha das fáceis soluções”, Leonor. É deve ser fácil para umas, mas de fato, para uma mulher normal, era difícil de suportar a idéia de se entregar por dinheiro ao banqueiro que Leonor a apresentara. Tentativa fracassada. Assim, Luiza se desespera e pede ao amigo em comum do casal, Sebastião, que lhe ajude. A solução fora o atropelamento da empregada que, ao invés da tão sonhada e rica aposentadoria, morre tragicamente.
Quando tudo parece ter terminado, o primo resolve responder a uma das cartas que cai nas mãos de último que a poderia ler, o marido. Luiza se desespera e atormentada de culpa começa a desenvolver quadros de delírio, acompanhados de febres altíssimas. Já no hospital, o marido a perdoa, mas ainda assim, a jovem morre em seus braços. Quando Basílio retorna e tenta visitar a prima, descobre que ela não estava mais nesta vida!! O primo repete o descaso de sempre e ainda diz: “Antes ela do que eu” . Depois dessa frase proferida pelo primo, deixo minhas observações para momentos posteriores, que virão, com certeza. Apenas preciso de um ar.
Michele Rangel

terça-feira, 8 de abril de 2008


Essa mania de blogs culminou com uma outra nova: A de assistir filmes e mais filmes! Tenho passado os últimos meses fascinada por esta idéia, tanto que resolvi fazer um blog para escrever um pouquinho sobre esta experiência. O endereço é Cinema, Pipoca e Afins.



Pensei em começar fazendo um convite para que todos participassem do blog e daí me veio na cabeça a expressão "Fala Tu", o filme e tudo mais. Então, resolvi começar por ele, mesmo já o tendo assistido a algum tempo. Então, depois dessas linhas, "Fala Tu", deixe seu comentário, sugestão, ou seja lá o que for.....
O filme Fala Tu retrata a trajetória de pessoas que vivem nas favelas do Rio e que conseguiram através da música mudar suas vidas. Foi eleito como melhor documentário e melhor direção pelo júri popular ganhando prêmio no festival de Berlim de 2004. O filme gerou polêmica dentro e fora do país.Fala tu mostra o cotidiano de personagens reais que encontraram no rap uma alternativa para não sucumbirem ao poder paralelo que domina as favelas do Rio. Revela a batalha desses, que mesmo em meio a dureza de suas vidas conseguem passar uma mensagem otimista.Combatente, uma das personagens que mora em Vigário Geral canta rap para revelar sua experiência e quebrar a visão machista que ainda existe no movimento hip hop.Sua passagem deixa explícita a dificuldade e preconceito que a mulher negra sofre dentro de uma sociedade onde existe um modelo europeu de beleza. Sua experiência salienta também, a importância das rádios comunitárias para o movimento hip hop.A realidade de Macarrão que tem no rap uma forma de desabafar a realidade que vive. Ele revela que as dificuldades de quem vive na favela são tantas que para muitos acaba sendo mais fácil seguir o mundo do crime que o trabalho convencional do “ asfalto”. Ele se identifica com a sua comunidade, gosta de morar na favela, porque existem laços de afetividade fortes ali e ele não é marginalizado.Diferente de sua mulher Mônica, que não aceitava a vida da favela por achar perigosa e não concordar com a imposição dos traficantes. A religião foi seu refúgio e ela tentava por meio desta conforto para ela e sua família. Ela faleceu ainda nas gravações, durante o parto de seu filho com Macarrão. Sua história foi chocante, como a de diversas pessoas que vivem sem infra estrutura alguma, sem apoio familiar e excluídas socialmente.Cavalcante outro personagem marcante mostrou um grande exemplo de esperança e persistência. Acredita no rap como uma forma de expandir o que acontece dentro das comunidades. O filme mostra a trajetória dele e de seu pai, do reencontro, depois de dez anos, até sua doença e morte. Ainda assim, ele possui um otimismo contagiante e pretende ser jornalista e trabalhar em rádio.Fala Tu buscou a realidade dessas pessoas, que fizeram do rap uma linha divisória, transformando positivamente suas realidades. E também deu vozes a tantas outras que puderam entender a essência do movimento hip hop e seu caráter transformador.O filme é mais uma contribuição para mudança no enfoque de abordagem da realidade das comunidades que a mídia produz. Alia -se a luta de mídias alternativas que querem mostrar o trabalho e a trajetória de pessoas que buscam soluções viáveis para a problemática social.Dirigido por Guilherme Coelho, foi filmado oito dias depois da morte do jornalista Tim Lopes quando a relação da mídia com o tráfico estava contaminada. Ainda assim, conseguiu mostrar o outro lado de quem vive na favela.O que se percebe e que a mídia tradicional esta aquém do que deveria. O enfoque deveria seguir novas direções. Apenas 2% de quem mora na favela está envolvido com o crime. E para quem não está, fica a cada dia mais difícil lutar contra essa imagem que a mídia construiu ao longo dos tempos.Esse é o desafio de quem batalha por condições igualitárias num país que se diz sem preconceito, mas que produz atitudes separatistas cotidianamente. E dever da mídia revelar tudo o que acontece, isso e fato. O traficante deve aparecer nos jornais e noticiários e ser punido. Mas não e só de crime que vive a favela. Dentro das comunidades carentes encontramos pessoas engajadas em projetos sociais de grande relevância.Fala tu se refere a essas pessoas, que encontraram na música forma de recuperarem a auto estima, respeito e dignidade. E com isso, conseguiram através de suas vivencias e conquistas sensibilizar quem está dentro e fora dessa realidade. Porque na verdade a sociedade é uma só e a responsabilidade social é dever de todos.
Michele Rangel
Ps: Este texto é o primeiro filme escolhido para o blog, visitem e participem! Particularmente eu amo esta mistura pipoca + filme, mas se preferir outra não tem problema algum, o que vale pe curtir a sessão!!

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Doar, doar e doar....


Lar Anália Franco
Talvez possa parecer que este tema não seja de cunho cultural, mas é de vital importância, uma vez que vivemos numa sociedade anestesiada e entorpecida pela futilidade e o individualismo. De fato, não se trata de nenhuma crítica literária ou matéria de cultura popular, contudo, é um assunto que deve estar sempre em pauta, aqui e em qualquer outro lugar. Por isso, tomei a liberdade de postá-la, com a certeza de que todos irão concordar com meu ato.
Estive neste último sábado fazendo uma visita junto à escola de meu filho, ao “Lar Anália Franco”para levar algum tipo de ajuda, financeira e afetiva às meninas que lá permanecem em regime de semi internato. O lar se mantém totalmente de doações e abriga crianças de 0 a 12 anos que estão em alguma situação vulnerável ou em risco social. Todos os pequeninos que estão em idade escolar se encontram matriculados na rede municipal de ensino e passam o período restante no lar Anália Franco, onde recebem assistência médica, odontológica, psicológica e orientação espiritual. Além disso, a instituição provê vestuário, calçados, alimentação e ministra aulas de teatro, dança, informática, entre outras.
A escola de meu filho promoveu uma espécie de gincana baseada numa tabela de pontos, onde as turmas dos alunos doavam seus brinquedos, roupas e alimentos. A equipe vencedora teria como prêmio um churrasco. Na realidade sabemos que muitas crianças estavam ali pelo “evento” e pelo tão esperado churrasco, contudo, a atmosfera daquele lugar com certeza deixou algo de diferente, tanto na cabeça das crianças de lá, como na das que foram visitar.
Talvez este seja o primeiro passo para construirmos uma visão menos egoísta na cabeça de nossos filhos. Uma visita como essa será muito mais construtiva do que irmos ao shopping e comprarmos mais um brinquedo, que as nossas já têm em demasia. Aquelas crianças carecem de tudo, e sempre há dentro de nosso armário, entupido de coisas inúteis, algo para lhes oferecer. Existem os que podem doar grandes quantias, existem os que podem doar muito amor, existem os que doam seu tempo – seja lá o que for, o ato de doar é algo que o ser humano precisa muito exercitar.
Acredito que esta situação lamentável em que é tratada a educação no nosso país, o descaso do Estado com tantas crianças carentes é algo que provoca desânimo. Ainda assim, não devemos esmorecer e permanecermos sentados recostados em nossas “almofadas de inércia”, apenas reclamando do que “eles” deveriam fazer. É necessária uma visão maior, além dos nossos umbigos e é fundamental que ensinemos os nossos filhos a assistirem menos TV para verem a vida que existe do lado de fora, sem futilidades e edições. Estar em contato com outra realidade coloca nossas crianças mais conscientes do abismo social que esse país enfrenta e as orienta na realização de grandes feitos, que podem começar desde cedo.
Michele Rangel



Lar Anália Franco
Rua Marechal Rondon 875, Rocha.
Tel: (0xx21) 2281-1000
Email: laranaliafranco@ig.com.br

domingo, 6 de abril de 2008

Papos Culturais

Pessoal,

O blog Papos Culturais nasceu da necessidade de divulgar um pouco da cultura popular brasileira, debater sobre a cultura no Brasil, mostrar fatos curiosos, enfim fazer um fórum de discussão sobre cultura.
O tempo passou e, apesar de ser um blog mais visitado do que o Balzaquianas, percebo que pouquíssimas pessoas comentam esse blog. Faço um convite aos leitores que me ajudem, que comentem, deêm dicas, para que esse espaço fique melhor.
Abaixo uma enquete para que eu possa conhecer vocês melhor.

beijocas

Kátia Barros

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Olinda: Magia, cultura e carnaval!


Andar pelas ruas de Olinda, subir e descer aquelas ladeiras é vivenciar experiências quase que mágicas. Primeiro a visual - uma arquitetura quatrocentista com seus casarios antigos envolta por uma natureza exuberante.Depois a atmosférica – respirar arte e ter contato com diversas manifestações culturais, seja nas artes plásticas, na música e na culinária. Chegar ao topo da ladeira da Sé e encontrar aquelas barracas com tapiocas de todo tipo e olhar a cidade lá do lato, chega a ser como uma miragem. Entre um atelier e outro, a oportunidade de conhecer obras de artistas plásticos de renome internacional como João Câmara, Tereza Costa Rego, Guita Charifker e outros artesãos anônimos, espalhados nos 71 ateliers na cidade alta. É como um levitar cultural e não é a toa que a cidade inspira poetas, é pauta de músicas e foi eleita Patrimônio Cultural da Humanidade.
Agora, talvez o ponto forte desta cidade seja o seu carnaval. Um carnaval multicultural onde todos podem chegar. São sons que vêm de todo Brasil e do mundo. Mesclam-se o Maracatu, o frevo, o coco, o rock and roll e o samba. Olinda é a mistura democrática que exacerba seus ritmos sem deixar também que os outros cheguem e se façam notados. Mas para além do frevo tradicional, que faz parte da raiz do carnaval olindense e dos tradicionais bonecos gigantes que desfilam em meio ao povo, a cidade também cai no samba.
Podemos dizer que o samba de fato não têm fronteiras. Este ano o frevo completou 100 anos e desta forma o carnaval de Recife e Olinda foi exaltado na Avenida com muito samba no pé pela Estação Primeira de Mangueira. A escola veio tecendo a trajetória do frevo, lembrando grandes nomes e grandes blocos pernambucanos.
Muitos são os nomes responsáveis por fazerem vibrar gerações de multidões “frevolentas” no Recife. Capiba, que é um dos maiores nomes da música pernambucana que compôs para o “Bloco da Madeira do Rosarinho” a música “Madeira que cupim não rói”, além de vários outros clássicos. Raul Moraes compôs grande parte do repertório do “Bloco da Saúde da Mulher” que vinha a ser concorrente do “Bloco das Flores”, além de ter participado de diversos blocos como “Pirilampos”, “Batutas do São José”, “Galo Misterioso”, entre outros. Edgar Moraes, irmão de Raul Moraes, que foi o autor do frevo que inspirou a criação do Bloco da Saudade “Valores do passado”, uma marcha que faz homenagem aos 24 blocos extintos do carnaval do Recife; e Cláudio Almeida que produziu, junto com Humberto Vieira, o primeiro CD do Bloco da Saudade “Saudade vai passar”. Enfim, são muitos nomes que não poderiam ser esquecidos e que ganharam notoriedade merecida entre os cariocas pelo enredo da Mangueira de 2008.
Essa mistura de samba e frevo também têm seus adeptos por lá. Entre uma ladeira e outra o samba de um grupo tradicional de Olinda, o Patusco, arrasta milhões de foliões. Além do frevo, maracatu e coco também se ouve o samba enredo das tradicionais escolas de sambas cariocas mesclando a irreverência pernambucana á poética do samba carioca. O final disto tudo é muita alegria que arrasta multidões de foliões, cariocas, pernambucanos, mineiros, paulistas e muito mais.
O samba carioca feito por pernambucanos que desce e sobe as ladeiras de Olinda. A ponte entre o Rio de Janeiro e Pernambuco está sendo feita aqui e lá, revelando a grandeza da cultura popular. A união está para lá de aprovada, levantou a Marquês de Sapucaí, a avenida dos cariocas e arrastou centenas de foliões em Olinda.
Portanto um aviso aos cariocas e aos amantes do samba de todo país, além de tantos ritmos você encontrará muito samba e de qualidade pelas ruas de Olinda e para isso você não precisa de Abada, não necessita ingresso, nem tampouco permissão, é só chegar e se misturar ao povo, entrar no ritmo e cair na gandaia, ou melhor no samba.
Precisa sim é de fôlego, para subir e descer as ladeiras embaladas pelos ritmos que se misturam e a multidão de foliões que só para de pular na quarta feira de cinzas, chorando a espera do próximo carnaval.
Michele




O Patusco descendo as ladeiras......

Tradição no carnaval de Olinda

O Patusco
O grupo carnavalesco foi criando em 1962, pelo clã Vasconcelos Guimarães, e logo passou a ganhar destaque por fazer um carnaval participativo e original entre os fuliões olindenses. Deco um dos diretores do grupo fala um pouco mais deste “samba enredo”.

ENTREVISTA DECO

1- Como surgiu o Patusco? ­­­­­­­­­­­­­­­­
O grupo carnavalesco foi criando em 1962, pelo clã Vasconcelos Guimarães, e logo passou a ganhar destaque por fazer um carnaval participativo e original entre os fuliões olindenses, porém, somente veio a ser conhecido como PATUSCO em 1972, onde, para participar de um Concurso de Fantasia realizado pela EMPETUR em Olinda o grupo teria que dar um nome no ato da inscrição, como a fantasia nessa época era de pato, os fundadores buscaram uma palavra que lembrasse pato, mas que ao mesmo tempo desse as reais características para a filosofia do grupo, e por pura coincidência, acharam no dicionário a palavra PATUSCO, que significa: Aquele que gosta de patuscada, ou seja, um ajuntamento de pessoas que se reúnem para beber, brincar e se divertir. Pronto, estava dado o nome, não poderia existir palavra melhor para este grupo.

2- Me fale um pouco da história e da trajetória do grupo?
O grupo passou por diversas fases, começou com um grupo de pessoas vestidas com fantasias exóticas, logo depois veio à fase das sátiras políticas. A partir de 1973, com o dinheiro ganho no concurso de fantasia da EMPETUR de 1972, o grupo comprou instrumentos musicais e passou a ter uma bateria própria. Hoje o bloco é reconhecido pelo som de sua bateria tradicional. Em 2000, foi criada a BANDA PATUSCO, que toca o ano inteiro fazendo shows pela região nordeste.

3- Como é feita a escolha de repertório e de componentes?
A escolha do repertório é feita por alguns integrantes, escolhendo dentre os repertórios de samba enredo, Beth Carvalho, Alcione, Simone, entre outros artistas famosos. Além disso, a banda recebe composições feitas por pessoas da própria região para o próprio PATUSCO. A escolha dos componentes da bateria é feita da seguinte forma: As pessoas interessadas a tocar no bloco carnavalesco fazem as inscrições (gratuitas), participam de alguns ensaios e depois é feita uma avaliação e os cortes necessários.

4- O carnaval de Olinda é conhecido por sua irreverência, por se mesclarem diversos ritmos, como você vê isso?
Esse é o diferencial do carnaval de Olinda, é um carnaval multicultural, aqui se sobe uma ladeira com o maracatu, desce com um frevo, sobe novamente ao som do caboclinho e mais uma vez desce sambando. Enfim, dança e escuta diversos ritmos em uma única festa popular e democrática.

5- Quando e onde o patusco poderá ser visto neste carnaval?
A partir de sexta-feira, dia 16/02, com seu tradicional “arrastão” abrindo o carnaval olindense, no domingo, na segunda e na terça de carnaval com seu desfile oficial, que terá concentração na Rua do Amparo, em frente a casa do PATUSCO às 8:59 hs da manhã.



6- Quais os projetos futuros?

Lançamento de um CD com musicas próprias, começar a fazer shows fora da Região Nordeste e dar continuidade ao PROJETO PATUSQUINHO (projeto social com crianças carentes da comunidade da Ilha do Maruim, onde estas mesmas crianças tem que estar matriculadas e estudando para participar).

domingo, 10 de fevereiro de 2008


O CENTRO CULTURAL CARTOLA



A comunidade da Mangueira tem como traço característico a união e o senso de pertencimento provocado pela arte, pelo samba e pela Escola de Samba ali instalada. A constatação de que a nova geração não tinha conhecimento da história de sua comunidade e o baixo índice de jovens empenhados em operar mudança no caminho a eles historicamente reservado, motivou a criação de uma instituição voltada para despertar nesses indivíduos o sentido de pertencimento, identidade e o resgate da memória afetiva.A rede de relações estabelecida pela grande líder DONA ZICA e seus netos Nilcemar e Pedro Paulo Nogueira, composta de professores, artistas, estudantes e pesquisadores possibilitou em 2001, a fundação do Centro Cultural Cartola. Inicialmente funcionando em espaço cedido pela FAETEC, em convênio com o Governo do Estado do Rio de Janeiro. Desde 2003 o Centro Cultural Cartola ocupa uma área de sete mil metros quadrados, em prédio desativado do IBGE, cedido pelo Ministério da Cultura, localizado Rua Visconde de Niterói, na Mangueira.A iniciativa propõe o resgate de hábitos e costumes da cultura afro-brasileira, a valorização da troca de experiência entre gerações num contato direto entre griô e aprendizes, por meio do Projeto GERações, estimulando-os a participarem ativamente da “Roda dos Saberes”, em oposição às pressões externas de globalização e a falta de auto-estima e de pesquisa.A base deste empreendimento é a vasta obra de Angenor de Oliveira, o Cartola, cuja importância para a música popular brasileira é reconhecida. A escolha de Cartola como patrono da instituição se justifica pela sua importância no mundo musical, complementada por sua luta, superação de dificuldades, exemplo de inserção ativa do indivíduo na sociedade por meio da produção cultural. Assim, além da criação de espaços destinados à exposição e à divulgação da produção cultural de Cartola, o Centro Cultural, atualmente reconhecido como Ponto de Cultura, pelo Ministério da Cultura, se dedica à educação musical e artística de crianças, jovens, adultos e idosos em projetos sociais de grande abrangência. Tem como objetivo a promoção e desenvolvimento da cidadania por meio das artes, motivando os crianças, jovens e adultos do Morro da Mangueira e adjacências, no município do Rio de Janeiro, a identificar valores culturais da comunidade a que pertencem, oferecendo gratuitamente oficinas de teatro, dança, música, poesia e eventos sócio-educativos como: a realização de rodas de leitura, coleta de Depoimentos, mostras de vídeo com debates, shows e palestras. Possui uma Biblioteca Comunitária com o apoio da faculdade de biblioteconomia da UNIRIO.Os benefícios que a iniciativa proporciona para a comunidade é antes de tudo a valorização de uma identidade, a formação de cidadãos melhor preparados e fortalecidos, com melhores condições de competitividade no mercado e integração social. O trabalho de preservação e difusão das nossas tradições leva a proteção das mesmas, evitando a descaracterização.
E o resultado do trabalho desenvolvido pode ser apreciado por outros segmentos da sociedade, podendo ainda gerar recursos e divisas, considerando que a nossa “matéria prima” é o samba e por meio dele trabalhamos a nossa identidade e sua importância como patrimônio cultural brasileiro.
ps: Amigos recebi este texto do meu amigo Thiara e estou repassando por aqui, uma vez que acredito que todos devam conhecer este lugar e este nobre trabalho. Em breve, escreverei mais sobre o Centro, o Cartola, o samba e um pouco do que isso representa na vida cultural do Rio de Janeiro e na minha vida.


Michele Rangel

Nei Lopes Especial


SAMBA DE FUNDAMENTO

Nei Lopes - Magno de Souza


Vestiu o meu terno de linhoe ficou feito um morto

Calçou meu pisantebranquinho e sentiu desconforto

Botou na cabeça o chapéu assim feito uma flor

Pegou meu pandeiro e bateu com mais ódio que amor.


E aí foi catando cavaco em fundos de quintais

Arfando, como quem viola templos virginais

E como era sambista só porque Seu Rei mandou

Vibrou minha sétima corda e nela se enforcou.


O samba

Vem lá de muito longe

De antes da Praça Onze

De emoções ancestrais.


Candeia Por sinal já dizia

Que ele é filosofia

Não é moda fugaz.


O samba

É uma coisa de dentro

Tem os seus fundamentos

Os seus rituais

E a gente

Só penetra essa seita

E em seu colo se deita

Quando sabe o que faz...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

“Quero ser feliz. Para isso preciso de modelos.”

Este é o início de um brilhante texto do Arnaldo Jabor publicado no seu livro de crônicas “Amor é prosa e sexo é poesia”. O que antes era um artigo do jornalista, depois virou música da Rita Lee para, finalmente nascer o livro, que, aliás, merece ser lido e relido. Jabor aponta de forma incrível a mediocridade das relações, que hoje são regidas mais pelo que vêm de fora que pelo interior.
Tenho assistido alguns capítulos desse atual BBB, que não entendo como já chega á marca de oitavo. Na verdade, a identificação e o fascínio pela cultura da superficialidade são vistos e acompanhados durante muito tempo em nossa sociedade. Porém, poder detectar quais são os meios utilizados para este fascínio, como é o caso dos programas reality show, tal qual o Big Brother, começa a se tornar interessante.
O espetáculo é facilmente encontrado em vários programas da televisão brasileira, contudo, essa mesma presença espetacular na sociedade acaba, em meio a correria do dia a dia, acostumando os olhares passivos de milhares de telespectadores a não percebê-los. E assim nascem os heróis, os semideuses que têm seu caminho favorecido pelo “empurrãozinho” da fama pela fama.
Hoje nossos heróis não são como os de antigamente, nem precisam de grandes esforços, não mais salvam mocinhas em perigo - se é que ainda existe alguma - não escalam montanhas nem nada, aliás, melhor mesmo é não saber de nada...
É Como relata Jabor: “ (...)Hoje, não. Nossos heróis masculinos não trabalham. A mídia nos ensina que os heróis da felicidade não têm ideal algum a conquistar, a não ser eles mesmos. A felicidade virou uma autoconstrução de sucesso, de bom desempenho. O solitário feliz suga o prazer em cada flor, sem conflitos, sem dor, sem afetos profundos, mas sempre com um sorriso simpático e congelado. O herói feliz passa a idéia de que não precisa de ninguém, de que todos são o objeto de seu desejo, de que todos podem ser prisioneiros de seu charme; mas ele, de ninguém....(...)A mulher da mídia deseja ser um objeto de consumo como um eletrodoméstico, quer ser um avião, uma “máquina” peituda, bunduda, sexy ( mesmo se fingindo), também o homem da mídia deseja ser “ coisa”, só que mais ativa, como uma metralhadora, uma Ferrari, um torpedo inteligente e, mais que tudo, um grande pênis voador, um “ passaralho” superpotente, mas irresponsável e frívolo, que pousa e voa de novo, sem flacidez e sem angústias. O macho brasileiro tem pavor de ser possuído por uma mulher. Não há entrega; basta-lhe o encaixe. O herói macho se encaixa em heroína fêmea B e produzem uma engrenagem C, repleta de luxo e arrepios, entre lanchas e caipirinhas, entre Jet-skis e BMWs, num esfuziante casamento que dura três capas de caras....
Infelizmente “alienação + superficialidade” são os principais ingredientes desta receita, que, somada a uma bela edição resultam no produto perfeito para a nossa sociedade. Essa que nos dá todas as respostas para que sejamos seres humanos que pregam a sua vida em um mundo de consumo, mercadoria, do capital, da aparência e do fascínio. Que espetáculo!
Diariamente assistimos a tantas outras cenas que eu gostaria que não se prolongassem os capítulos. Cenas de uma vida real onde o jogo Mas é assim, enquanto as pessoas se preocupam com as desejáveis “bundas alheias” todo o resto segue sem resposta. Enquanto vamos dando apenas nossas “espiadinhas” têm muita gente de olhos bem abertos.
Michele

sábado, 19 de janeiro de 2008

Grupo Partideiros do Cacique


O grupo Partideiros do Cacique está em fase de produção de seu primeiro CD independente, que deverá ser lançado depois do Carnaval. Conversando com Carlinhos Tcha Tcha Tcha, músico do grupo, tive a informação de que só tem "pancadão", ou seja muito samba no pé, com todos os instrumentos afiadíssimos a que temos direito, afinal é puro samba de raiz. Estou aguardando ansiosamente e comunicarei como encontrá-lo, pois a tiragem será pequena.

beijocas

Kátia

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Trailer do filme O Caçador de Pipas legendado

Um livro lindo... o filme posso imaginar

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Zeca com Marília Gabriela


No próximo domingo, dia 20, o convidado do "Marília Gabriela Entrevista", do GNT, é Zeca Pagodinho. Não deixe de conferir! Principalmente porque, no programa, ele fala sobre o Zecapagodiscos! Zeca dá detalhes do selo e diz que o sucesso do samba vem da união dos músicos. "No fundo, todo mundo é amigo e, com isso, o movimento só vai crescendo". Pagodinho revela que faz questão de escutar os grandes bambas em casa, como Moreira da Silva, Silvio Caldas e João Nogueira.
O programa vai ao ar no GNT no domingo, às 22h.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Que galera é essa?????

Galeras Cariocas

A juventude tem limites mínimo e máximo e esses variam em cada momento histórico. A trajetória dos jovens perpassa caminhos de luta por uma sociedade mais justa e igualitária. É fundamental notar como a conjuntura histórica influenciou essas gerações ao longo dos tempos. E assim, entender porque atualmente existe uma maior consciência social. Percebemos hoje um crescimento no número de pessoas envolvidas em projetos que visam à saída desse sistema que pouco permite evasão.
O livro “Galeras cariocas” do sociólogo Hermano Viana aborda um estudo que busca entender a juventude e seu caráter transformador, mergulha em mundos diferenciados e revela como cada um agrega valor diferenciado. Realiza uma abrangente pesquisa que trata da juventude dos anos 60 e 70, em tempos de repressão, a juventude militar, até a juventude dos dias de hoje.
O autor mostra como se dão os encontros e os conflitos entre as galeras dos anos 90, intensificando seu estudo no atual e como a “cultura do medo”, de forma diferenciada, desenvolvida pela violência afeta cada uma delas. Seleciona uma série de exemplos e alternativas de pessoas que mesmo convivendo na rotina violenta imposta pelo tráfico de drogas conseguem alternativas para sair do mundo do crime, que pode ser pela Religião, pela Arte e pela inserção no mercado de trabalho.
Como exemplo de conflitos, o autor analisa os bailes funks que compreendem a tensão entre a competição e a hostilidade, entre rivalidades sem grande importância e confrontos mais sérios. De acordo com o contexto instaurado nesses bailes os jovens tecem atitudes que permeiam entre o lúdico e o violento e que são a forma como esses jovens descarregam seu sentimento de abandono e revolta diante de um sistema que abandona e discrimina todo e qualquer movimento das classes menos favorecidas.
Hermano Vianna trabalha em seu livro paralelamente o livro Cidade Partida de Zuenir Ventura que revela o cotidiano de jovens moradores de Vigário Geral. Nessa pesquisa de campo o jornalista encontrou grupos juvenis como o GerAcão e o grupo cultural Afro Reggae, assim como a Casa da Paz que reúnem jovens que buscam a vida longe da vida do crime.
Nessa luta pela erradicação da fome e da miséria observou se o empenho não só dos jovens moradores da favela, que queriam constituir um futuro mais digno, como também de estudantes de diversas áreas do Rio de Janeiro, que em união buscaram soluções para questões de desigualdades sociais e violência na cidade.
O Afro Reggae ficou conhecido em todo o Rio por exemplos de cidadania, que tirou jovens da rua, que podiam estar à mercê de traficantes e sem perspectivas de saírem dessa realidade, em que muitas vezes, é intensificado pelo preconceito e o descaso da sociedade que se diz preocupada, mas não realiza práticas que promovam mudanças reais.
Esses encontros tornaram viáveis trocas entre quem vive e mora na favela de Vigário Geral e os que moram no asfalto. Trocas que ensinam mais quem estava fora através do contato direto e da experiência, uma realidade além da que a mídia costuma revelar.
O autor buscou também analisar uma outra parcela de jovens que se denominavam a juventude militar, que se inseriam nesse caminho ara adquirir acesso ao estudo e crescimento de carreira. Estes jovens que tiveram voz no início de suas formações com o tempo a perderam devido ao regime autoritário imposto por militares que utilizavam uma outra forma de obediência que também tinha no medo caráter de coesão.
Já os jovens revolucionários dos anos 60/70 em sua maioria vinham de uma classe média que possui um sistema de valores que possibilitava que estes tivessem um projeto de vida. Muitos queriam ser médicos, engenheiros, professores, advogados, mas o contexto social e político da época acabou transformando estes em líderes revolucionários. Foi uma década em que se destacavam artistas, intelectuais e jovens que buscavam pela educação politizar o povo para que estes adquirissem consciência crítica em tempos em que o golpe queria fazer a juventude calar.
O livro mostra como a juventude nos seus mais diversos grupos como os jovens das periferias, os da classe média, revolucionários, artistas, enfim todos que representam esse país possuem suas formas peculiares de se relacionarem com uma realidade desigual.
Um país de pluralidade cultural onde a superioridade e o etnocentrismo se disfarçam, mas sobrevivem de modo muito forte em nossa sociedade. Ninguém nasce com preconceito; ele se adquire através de estereótipos injetados em nossos corpos e mentes através dos tempos.
Hoje em dia ninguém é uma coisa só. Todo e qualquer grupo deve aceitar as diferenças e buscar soluções viáveis para resolução de uma causa única, que é a social. E cada vez mais percebemos que o jovem aparece tecendo atitudes para mudar a realidade em que vivemos.

Michele Rangel


terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Pagode da Tia Doca


Domingo passado estive em Oswaldo Cruz no Pagode da Tia Doca e a experiência de estar ali naquele solo é maravilhosa. Eu, que fui nascida e criada no mundo do samba, sei o quanto a energia de lugares como a Tia Doca e o próprio Cacique de Ramos é contagiante. São para mim "lugares mágicos", aonde o samba atinge a sua característica, mais marcante: ser um ritmo brasileiro, tocado por brasileiros, num solo de subúrbio,genuínamente carioca, com o axé dos Orixás. Tudo isso, sem falar no excelente repertório, pois o Nem, filho da Tia Doca é como eu, alguém que cresceu no meio do samba e de música boa conhece bem. Grande lugar!

Curiosidades

Jilçara Cruz Costa, carinhosamente chamada de Tia Doca, é uma referência nos subúrbios de Oswaldo Cruz e Madureira, o berço da escola de samba Portela. Com um timbre de voz peculiar que despertor a curiosidade dos compositores Paulinho da Viola, Marisa Monte entre outros, tornou-se pastora da lendária Velha-Guarda da Portela. Após a separação de seu marido, Doca organizou uma roda que até hoje encanta quem gosta de samba.
O Pagode da Tia Doca a mais de 29 anos agita os Domingos e vem se destacando, ao longo desses anos, como um ponto de encontro de samba. Vale destacar, ainda, que a um ano o Pagode da Tia Doca também realiza apresentações todas as Sextas-Feiras no tradicionalíssimo Cordão do Bola Preta. Cerca de 1.200 pessoas lotam a casa nas noites de Sexta e 1.500 nas noites de Domingo para ouvirem clássicos do samba, onde artistas consagrados também já pediram a "benção" à eterna pastora, como Beth Carvalho, Reinaldo, Arlindo Cruz, Sombrinha, Elza Soares, Fernando Abreu, Jorge Aragão, Zeca Pagodinho e Wilson Moreira.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Oxum

Dança de Oxum, a orixá de Tia Ciata. Lindo!!

Tia Ciata



Minha carta de alforria/ Não meu deu fazendas/ /Nem dinheiro no banco/ Nem bigodes retorcidos ¨ . (Negro Forro, poema de Adão Ventura )


"No futuro, quando se fizer uma história do Brasil honesta e sincera, é que se poderá dar o valor devido à etnia negra na formação do povo brasileiro, principalmente na constituição de seu perfil cultural, afetivo, psicológico e sociológico. Obrigatoriamente, ter-se-á que reconhecer, sem dúvida, que o bom caráter do nosso povo, principalmente em relação às qualidades de generosidade e tolerância, foi abundantemente regado com o sangue e o suor do negro brasileiro, que arrancado de sua pátria, de modo selvagem e violento, e conhecendo em terras brasileiras toda a sorte de violência e humilhação , soube mercê de seu caráter elevado, perdoar a vilania do branco colonizador, dando , em paga da chibata e do tronco, o seio da mãe preta , para fornecer seiva de vida aos filhos dos senhores de engenho , e o braço forte do negro para trabalhar nas fazendas de café, açucar e algodão. Ainda está por ser feito o inventário da contribuição do negro na formação do povo brasileiro. Muitos nomes de negros valorosos haverão que ser lembrados, na constituição dos vários segmentos da cultura brasileira. Dentre estes ninguém poderá olvidar o nome de uma valorosa mulher negra da maior envergadura que muito contribuiu para as origens de uma das nossas mais ricas formas de manifestação cultural, que é a música brasileira. Estamos nos referindo a tia Ciata, de nome Hilária Batista de Almeida, figura de proa da comunidade negra que aparece em todos os relatos que dão conta do surgimento do samba carioca e dos ranchos, cuja lembrança permaneceu cultivada sempre com muito carinho pelo coração dos negros antigos da cidade do Rio de Janeiro. Tia Ciata, viu a luz do mundo em Salvador, no ano de 1854, e porque era dia de Santo Hilário, recebeu o nome em homenagem ao santo. Na sua cidade Natal bem cedo tomou contato com a cultura ancestral da sua raça e bem nova foi feita no santo. Com apenas 22 anos, em 1876, chegou ao Rio de Janeiro, indo morar na rua General Câmara, e mais tarde mudando-se para as vizinhanças de um grande representante da colônia baiana no Rio, Miguel Pequeno, marido de D. Amélia do Kitundi, na rua da Alfândega, n. 304. Sobre seu verdadeiro nome instalou-se controvérsia , constando no atestado de óbito Hilária Pereira de Almeida, e numa petição de pedido de ingresso no clube Municipal, declinando-se o nome como sendo Hilária Pereira Ernesto da Silva. Mas, não resta dúvida que oficialmente , inclusive fato testemunhado pelos seus descendentes e que figura nos livros que fazem referência à sua pessoa, está consignado que se chamava Hilária Batista de Almeida. Fincando vida no rio de Janeiro, ainda nova começou a namorar com Norberto da Rocha Guimarães, também, baiano, de cuja relação nasceria sua primeira filha Isabel, numa fase de vida de que começava a oferecer as primeiras experiências de vida adulta a esta mulher corajosa que mais tarde se celebrizaria na colônia baiana do Rio de Janeiro, mercê de seu espírito forte a que se aliavam uma grande sabedoria religiosa e grandes conhecimentos de culinária. Por exímia conhecedora da excelente culinária baiana, onde foi formada e sendo doceira de excelente qualidade, começou a trabalhar na rua da Carioca, envergando sempre suas roupas de baiana preceituosa , que nunca mais abandonaria depois de certa idade. Apesar do nascimento da filha Isabel, Norberto nunca viveria junto desta e da mãe, ficando ao largo dos grandes momentos de Ciata no Rio de Janeiro, que teria papel central na formação da pequena África no Rio de Janeiro, para onde afluiam os negros em busca de orientação, de proteção, de ajuda financeira. Mais tarde Hilária foi viver com João Batista da Silva, também baiano, que detinha boa condição de vida, estabelecendo com ele uma relação duradoura, que foi muito importante para sua afirmação no meio negro. João Batista havia chegado a freqüentar curso de Medicina na Bahia, interrompido por razões que se não conhecem, mas presumivelmente por dificuldade de enfrentar o enorme preconceito de que era alvo por ser negro. Abandonando a Faculdade, João Batista conseguiu vencer as dificuldades com tranqüilidade, ao conseguir, mercê de seu preparo intelectual, se manter em empregos estáveis, como linotipista no Jornal do Comércio e mais tarde conseguindo um dos desejados cargos de funcionário público na Alfândega. Um descendente seu , o sambista Buci Moreira , conta que foi graças ao trabalho de curadora de Ciata, que João Batista conseguiu um posto privilegiado de baixo escalão no gabinete do Chefe de Polícia, oferecido pelo Presidente Wenceslau Brás, em preito de gratidão e reconhecimento pela recuperação de sua saúde que andava abalada e muito o fazia sofrer em razão de um equizema, que até então nenhum médico conseguira dar jeito, e do qual foi por Ciata , com ajuda de seu orixá, completamente curado. Com João Batista teve uma prole numerosa de 15 filhos, entre os quais Glicéria, casada com Guilherme, também baiano que fez parte da Guarda Nacional( pais de Buci Moreira). Mulher de grande vitalidade e energia, Ciata fez de sua vida um trabalho constante, tornando-se com outras tias de sua geração a iniciadora da tradição carioca das baianas quituteiras, atividade que está baseada em forte fundamento religioso, e que foi recebida de bom grado pelos cariocas. A presença de Ciata era tão importante que sua figura foi registrada por Debret no seu famoso livro Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Após o cumprimento das tarefas religiosas, sendo os doces colocados no altar de acordo com o Orixá homenageado no dia, Ciata ia para seus pontos de venda, com saia rodada, pano da costa e turbante, ornamentada com seus fios de contas e pulseiras. Levava sempre tabuleiro farto de bolos e manjares, cocadas e puxas, os nexos místicos determinando as cores e a qualidade; por exemplo, na sexta feira, dia de Oxalá, era também dia de cocadas e manjares brancos. Ciata havia sido iniciada no santo por Bambochê, sendo legítimo imaginar que era ligada com o tronco mais tradicional do candomblé nagô baiano. No Rio de Janeiro Ciata desenvolvia suas atividades religiosas na casa de João Alabá, sendo a primeira, Iya Kekerê, Mãe Pequena, que atendia pelas obrigações das feitas no santo, pelas oferendas propiciatórias atribuídas a cada um à medida que avançasse no culto. Como Ebami, mais de sete anos de feita, era a Achogum da casa, a mão-de –faca, ligada ao sacrifício dos animais. A Mãe –Pequena, auxiliar direta do pai ou mãe–de-santo que lidera o candomblé no contato com as noviças a que prescreve os banhos rituais e dirige as iaôs, já iniciadas , nas danças dos orixás. A Iya Kekerê tanto usa o adjá, um instrumento próximo da sineta, que marca situações cerimoniais, como propicia ou mantém o transe dos cavalos possuídos por Orixas. É sua força e ascendência no santo que seria o centro da presença de Hilária junto à comunidade, um peso de lider que se fortalece tanto na organização das jornadas de trabalho, como na preparação dos ranchos, embora ela nunca saísse neles. Ciata de Oxum, Orixá que expressa a própria essência da mulher, patrona da sensualidade e da gravidez, protetora das crianças que ainda não falam, deusa das águas doces, da beleza e da riqueza. Ciata era festeira, dançarina, pagodeira, partideira , cantava com autoridade respondendo o refrão. Ciata sempre cuidando das panelas nas festas para que o samba nunca morresse. Hilária perde o marido em 1910, mas percebendo a sua importância para o grupo do qual era verdadeira lider, não se abateu continuando seu trabalho de agregação e ajuda aos negros . É na sua casa , nas grandes festas que o povo mais humilde, principalmente os negros , da Bahia e do Rio de Janeiro, vive seus momentos de alegria, de convivência fraterna e solidária, onde se retemperam as forças para o enfrentamento da dura realidade do dia a dia, na luta contra a pobreza, a adversidade, o preconceito. É aqui, nesse amalgama de gente simples e do provo, que vai se formar o caldo cultural que permite o nascimento de uma das nossas maiores riquezas : a música popular brasileira. É na casa de tia Ciata, alimentados pela boa comida e o alto astral proporcionado pelo generoso coração desta grande negra, que Pixinguinha, Donga, João da Baiana, Heitor dos Prazeres, se reúnem para traçar a pauta do nosso rico futuro musical . No carnaval Tia Ciata também presente com a família, saindo no Rosa de Ouro e no seu sujo O Macaco é Outro. A casa de Tia Hilária se tornaria um dos principais do itinerário dos cortejos, com todos os ranchos passando em frente de sua janela para lhe prestar homenagem."

Artigo retirado do excelente site Brasil Cultura, sobre uma das maiores personalidades do samba carioca. Vale a pena conferir

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

O samba e os Cultos Afro-brasileiros


Nós que estudamos o samba, sempre nos deparamos com referências tanto nas letras quando no ritmo de elementos que provêm dessa relação entre o samba e os cultos afro-brasileiros, como o Candomblé e a Umbanda. Fazendo uma análise um pouco mais aprofundada, vamos observar que historicamente essa relação foi solidificada na década de 20 quando se estabeleceram no Estado do Rio de Janeiro, principalmente na região do centro da cidade, na Gamboa, terreiros de candomblé.Esses terreiros tinham alvará do Estado para funcionar e se estabeleceram nessa região que recebeu uma grande quantidade de escravos vindo do sul da Bahia e com eles as famosas mães de santo, dentre as quais destacamos a Tia Ciata, que em barracão, recebeu grandes nomes do samba daquela época.
O samba estava ligado à malandragem, à vadiagem, e existem relatos de que houveram prisões dos que eram chamados de malandros, por simplesmente portarem violões.Podiam ler na época matérias em jornais que diziam :"Preso por portar um violão", considerado crime de vadiagem.Conta-se de que quando um sambista era parado na rua pela polícia, primeiro se examinavam as mãos para verificar se não haviam calos das cordas do violão nos dedos. Como os centros de candomblé tinham alvará para funcionar e a prática da batucada era liberada dentro deles, os músicos, sambistas, malandros e simpatizantes iam para dentro dos terreiros cantar e tocar. Hoje, com o samba legitimado, podemos observar a intrínsceca relação entre esses elementos culturais do povo brasileiro. Muitas histórias ainda podem ser contadas...

Acima obra do pintor Caribé - Roda de Samba