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domingo, 27 de maio de 2007

Jongo, Ancestral do Samba


Quando os negros foram trazidos para o Brasil, trouxeram como bagagem suas práticas sociais, entre elas: a música, a dança e a religião. A música para eles, tinha conotação tanto religiosa como festiva e geralmente era associada a dança e ao canto.

É evidente, que com o passar do tempo, todas estas práticas foram sofrendo modificações ou ajustes, uma vez que, mesclou-se com a cultura do povo que aqui já habitava, passando então, a abordar novos temas. Também foram utilizados para estas evoluções, instrumentos europeus e indígenas, pelo seu fácil acesso e sobretudo, foi adotada a língua portuguesa, como língua de expressão.

Jongo é portanto, uma dança de origem afro-brasileira, do mesmo tronco do batuque, ambos ancestrais do samba e do pagode. O Jongo formou-se nas terras por onde andou o café. Surgiu na Baixada Fluminense, subiu a Mantiqueira.

Em Taubaté, São Luís do Paraitinga, Pindamonhangaba e Cunha, encontram-se os últimos redutos de jongueiros do Vale Paulista, no momento, em fase de revivescência. Estruturado em roda, em torno de uma fogueira que ajuda a manter a afinação dos tambores, acontece hoje em praças públicas, da mesma forma que, outrora, acontecia nos terreiros. Com ela, os participantes homenageiam São Benedito e os antepassados negros.

Na dança participam homens e mulheres alternados. No centro da roda, se posiciona um solista, um jongueiro, que canta sua canção, o “ponto”. Os demais respondem em coro de algumas vozes, fazendo movimentos laterais e batendo palmas, nos lugares. O solista improvisa passos movimentando todo o seu corpo.

O instrumental é composto geralmente, por dois tambores, um grande, o Tambu e um menor, o Candongueiro. Encontramos ainda: uma Puíta, a nossa tão conhecida cuíca artesanal; um chocalho, o Guaiá, feito de folhas-de-flandes ou latas usadas. A execução do Tambu é feita com o tocador montado sobre ele, batendo no couro com as mãos espalmadas. Já o Candongueiro fica preso à cintura do tocador, que permanece de pé ou sentado. E o Guaiá é tocado pelo solista porém pode passar de mão em mão na roda, se assim ele o desejar. Ultimamente, têm-se visto violões e cavaquinhos no acompanhamento e alguns conjuntos de jongo usam até mesmo instrumentos de sopro em suas apresentações.

As melodias são construídas com o uso de poucos sons. A dificuldade reside no texto literário dos “pontos”, pois são todos enigmáticos, metafóricos. A inexistência de textos de sentido simbólico, que dá às palavras uma semântica peculiar aos jongueiros, parece ter tido origem durante a escravidão, quando os negros necessitavam transmitir informações indecifráveis pelos senhores.

O ponto pode ser cantado, rezado ou gungurado, isto é, usando a técnica erudita da "boca chiusa" - sussurro, murmúrio.

O jongo tem início sempre com uma louvação, acompanhada com muito respeito por todos os participantes. Em seguida são cantados os “pontos”, baseados em um verso curto e fácil de ser cantado, que nem sempre são improvisados, pois há aqueles tradicionais que correm o mundo. O ajuste das palavras à música é regulado por compassos fortes.

Quando o solista quer desafiar alguém, canta o “ponto de demanda”; este deverá decifra-lo, cantando a resposta: fala-se então que “desatou o ponto”. Se não for decifrado, diz-se que “ficou amarrado”. Neste caso, o jongueiro “amarrado” pode passar por várias situações humilhantes e vexatórias, como cair no chão desacordado, ficar sem voz, ou não conseguir andar. É no domínio desse aspecto que se estabelece a hierarquia existente entre os participantes: “cumba” é termo que define os pretos-velhos, antigos na idade e na prática dessa expressão, mestres na arte do improviso, do “amarrar” e do “desatar pontos”.

O decifrador deve colocar a mão em um dos tambores e gritar “cachoeira” ou “machado” ocasião em que todos se calam. Em seguida canta a resposta.

Durante o jongo não há práticas fetichistas nem movimentos convulsivos na dança, mas ela é aproveitada veladamente, em ambientes mais tradicionais, para contatos sutis com a magia, que podem resultar da essência da dança ou ser uma assimilação posterior.

Segundo Edir Gandra, autora de Jongo da Serrinha: do terreiro aos palcos (Rio de Janeiro: GGE/UNI-RIO, 1995),

"o jongo é uma dança de roda, da qual participam homens e mulheres, realizada ao ar livre e à noite; conta a tradição oral dos jongueiros que era dançada pelos escravos, que a transmitiram a seus descendentes”

O jongo era uma "brincadeira" permitida pelos senhores, já que outros ajuntamentos dos negros, para os brancos, poderiam resultar em movimentos revoltosos. Assim preservou-se essa expressão folclórica até os dias atuais.


Hoje, encontramos no Grupo Cultural Jongo da Serrinha, formado pela quinta geração de jongueiros e por crianças e jovens da comunidade sob a liderança de Tia Maria do Jongo, um excelente trabalho de divulgação e preservação do patrimônio afro-brasileiro. Parabéns a todos!

Ocorrência:
Cunha, Lagoinha, Pindamonhangaba, São Luís do Paraitinga, Taubaté.

O jongo é uma das mais ricas heranças da cultura negra presente em nosso folclore, pois então, NÃO VAMOS DEIXAR ESTE SONHO ACABAR!

Falaremos posteriormente do Jongo da Serrinha e do processo para torná-lo um bem imaterial da humanidade, processo ainda no IPHAN

Kátia Barros

Um comentário:

Monique Calmon disse...

Muito bom saber que posso saber mais sobre o Jongo aqui no blog de vocês!!
Voltarei aqui mais vezes!!!
Bjs
fiquem na pz
fui...